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Os 0,25% da Selic e eu: qual o impacto do aumento da taxa no crédito, na poupança e nas lojas
Medida, que tenta combater a inflação, afeta toda a economia brasileira
Para contornar as altas e baixas da bolsa de valores desde a segunda-feira pós-eleições, o governo decidiu aplacar as desconfianças do mercado e aumentou em 0,25% a taxa Selic na noite de quarta-feira.
E daí?, alguém poderia perguntar. Resposta: há algo mais do que os 0,25%. A medida, que tenta combater a inflação, produz uma onda na economia brasileira cuja crista atinge o mercado financeiro e se reflete em ondulações que chegam à indústria, ao varejo, ao consumidor e ao pequeno investidor.
O seu bolso será afetado de duas maneiras: um delas, negativa, é o aumento do preço do crédito. Isso porque a Selic é a taxa de referência usada nas operações entre bancos, o que acaba por deixar os empréstimo mais caros.
Veja quais são os efeitos em diferentes áreas:
Cheque especial e cartão de crédito
Conforme o educador financeiro Edward Cláudio Jr., o cheque especial e a conta do cartão de crédito para quem paga a parcela mínima vão ter impacto no próximo mês. Empréstimos para financiar um imóvel ou comprar um carro também podem ser afetados.
— Apesar de ser um aumento de 0,25%, vai encarecer bastante financiamentos de mais de dois anos — diz o economista.
Empréstimo pessoal
A pedido de ZH, Cláudio Jr. demonstrou o impacto da medida em um empréstimo pessoal de R$ 5 mil:
— Sem o aumento
Crédito: R$ 5 mil, com uma taxa de 3,5%
Pagamento: 24 parcelas de 311,36
Total: 7.472,74
— Com o aumento
Crédito: R$ 5 mil, com taxa de 3,58%
Pagamento: 24 parcelas de 313,99
Total: 7.535,66
Embora a diferença seja de R$ 62,92, o efeito é similar nos demais setores. Em outra simulação, desta vez usando como exemplo um carro no valor de R$ 30 mil, parcelado em 48 meses, o acréscimo seria de quase R$ 1 mil. Para quem já contraiu alguma dívida, nada muda.
Poupança e títulos de renda fixa
Nem tudo são perdas. Do lado positivo, para o pequeno investidor, há chance de ganhos. A lucratividade na renda fixa, como títulos públicos atrelados à Selic, deve aumentar, diz Wilson Marchionatti, professor de Economia e coordenador do estúdio de finanças da PUCRS, que presta serviços de capacitação e aconselhamento financeiro:
— Faz com que essas aplicações fiquem mais atrativas em relação à poupança.
Marchionatti também fez um teste com a nova taxa básica de juro. A resposta, dada a complexidade do cálculo, veio em uma sequência de nove passos:
1) O investidor que opta por investir em renda fixa deve saber que a poupança é um investimento com rendimento inferior, mas com isenção de imposto de renda. Atualmente a poupança rende cerca de 0,6% ao mês, ou 7,44% a.a (ao ano).
2) Há outras formas de investir em renda fixa, como fundos de investimentos, que costumam ter como meta de rentabilidade a taxa Selic, de 11,25%. Embora o rendimento seja maior do que a poupança, nesses fundos incide imposto de renda de forma regressiva, ou seja, quanto mais tempo deixar aplicado, menos se paga.
3) Os fundos de investimentos ainda costumam cobrar uma taxa de administração, que reduz a rentabilidade.
4) Portanto, o investidor deve compreender 3 características dos investimentos de renda fixa: taxa de juro, imposto de renda e taxa de administração.
5) Atualmente, se o investidor deixar R$ 1.000 na poupança, terá R$ 1.074,42 depois de um ano, ou seja, 7,44% de rentabilidade.
6) A questão que fica é: vale a pena investir em fundos de investimento que paguem próximo à Selic atual de 11,25% a.a, mesmo sabendo que haverá imposto de renda e cobrança de taxa de administração?
7) A resposta é que há um empate entre fundos de investimento e poupança se o tempo de aplicação é de 6 meses e a taxa de administração do fundo é de 1,5% a.a.
8) Se o investidor puder investir em um fundo que cobre uma taxa de administração menor ou no qual mantenha a aplicação por mais do que 12 meses, então terá uma rentabilidade maior do que a poupança. Se investir durante 12 meses em um fundo que cobra 1,5% a.a de taxa de administração, terá um retorno de 7,78%, já superior ao da poupança (7,44%). Deixando mais tempo aplicado ou pagando menos de taxa de administração, o retorno se torna ainda maior.
9) O mesmo vale para títulos públicos do tesouro direto, que superam a poupança ainda mais facilmente por apresentarem taxa de custódia ao invés de taxa de administração, que costuma ter um custo menor ao investidor.
Efeito no preço das lojas
— O lojista provavelmente vai absorver o impacto por causa do mau momento econômico — argumenta Gustavo Schifino, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
Schifino diz que o aumento é preocupante pois amplia os custos de empréstimos em um ano no qual o acumulado do setor nos primeiros noves meses do ano é inferior à inflação. Ele afirma, porém, que o aumento não vai chegar ao cliente em um primeiro momento.
— Recebemos a notícia com pesar. A expectativa é de que fosse mantida a taxa. Retira de circulação um capital importante para o varejo — diz o dirigente.