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Pequenas empresas e contabilidade internacional
Fonte: Gazeta Mercantil
Em 1993, a gigante alemã Daimler-Benz apresentou em sua sede lucro de US$ 97 milhões, mas desembarcou na Bolsa de Nova Iorque com um prejuízo de US$ 548 milhões. A explicação? Regras contábeis diferentes na Alemanha e nos Estados Unidos. Casos como esse demonstram a necessidade de haver um idioma financeiro global - o que se traduziu em uma linguagem contábil internacional, hoje denominada Normas Internacionais de Informação Financeira (NIIF em português, ou IFRS em inglês).
Já são mais de 100 os países que aderiram às normas contábeis internacionais, incluindo os da Comunidade Européia. No Brasil, o tema entrou na agenda das grandes empresas em dezembro de 2007, quando foi sancionada a Lei 11.638/07, que reformou a contabilidade brasileira em direção às normas internacionais para as sociedades anônimas e de grande porte.
Muito embora esse conjunto de normas contábeis internacionais tenha impacto fundamentalmente nas empresas de grande porte, como é o caso das companhias abertas listadas das bolsas de valores, a estrutura conceitual da contabilidade internacional define que o papel da contabilidade reside em prover informação útil para a tomada de decisão econômica. Nesse contexto, não é preciso ser grande para constatar que ter informação de qualidade para se tomar decisões é fundamental para todos.
Não sem motivos, desde sua criação, em 2000, o International Accounting Standards Board - IASB - órgão responsável pela emissão das normas internacionais de contabilidade, reconhece a necessidade de se pensar em normas contábeis internacionais para empresas de pequeno e médio porte (PME), o que o conduziu a oferecer uma minuta de norma contábil para PME que ainda está em discussão, mas já permite refletir sobre o futuro que se aproxima.
O grande desafio dessa norma é promover a convergência das PMEs para uma linguagem financeira comum sem impor um custo maior que o benefício de sua adoção. Os benefícios dessa convergência das PMEs são múltiplos. Vão desde a possibilidade de informar os sócios sobre o desempenho dos negócios utilizando-se de um conjunto de princípios de alta qualidade até a disponibilidade de informação compreensível para avaliação de crédito por um potencial credor localizado em qualquer canto do globo.
Entretanto, existe um "preço" a se pagar para se ter uma contabilidade sem fronteiras nacionais. Ao invés da confortável aplicação da "cartilha" de prescrições fiscais para contabilizar os atos e fatos econômicos, as PMEs passam nesse novo cenário a exercer o julgamento subjetivo sobre suas transações e operações, tendo como objetivo principal capturar, medir e divulgar os fatos econômicos relevantes. Isso requer aplicação de conhecimentos multidisciplinares, que vão desde as finanças corporativas à estatística.
Por outro lado, é possível que essa nova contabilidade mostre resultados mais voláteis, como expressão da volatilidade a que o próprio mundo empresarial está exposto. Nesse caso, não vale culpar o "carteiro" pela mensagem que carrega, afinal, não é exatamente o que buscamos? Saber como vão nossos negócios como forma de planejar e decidir sobre o seu futuro? Essa é a proposta das normas internacionais.
(Gazeta Mercantil/Relatorio - Pág. 6)(Guillermo Braunbeck - Professor da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras)